Gorduras boas

Dicas

Uma alimentação vegana equilibrada, com foco na saúde, é pobre em gordura, ao contrário do que acontece na alimentação com carne e peixe. Para termos o aporte necessário de gorduras boas (que as más nós já deixamos de comer quando deixamos os animais fora do prato) é importante introduzir com regularidade diária os frutos secos ou as sementes.

Quando comia de forma tradicional só comia frutos secos uma vez por ano, no Natal. Não sei como é que sobrevivi assim tantos anos. 😁 Só comia nozes! Agora como diariamente e nem sempre são nozes.

Uma das formas de potenciar o seu sabor e até elevar a sua biodisponibilidade é tostá-las. Demolhar, descartar a água e secar ao sol também traz benefícios para a saúde. Mas eu confesso que prefiro o sabor deles tostadinhos. Era incapaz de comer amêndoas com pele (com real satisfação) há uns anos e agora até sou eu que as procuro. Faz muita diferença o calorzinho que lhes damos. Inicia-se o processo de germinação e tudo se intensifica. Os óleos começam a querer sair, os cheiros são realmente distintos e o sabor é outro.

Experimentem! Podem fazer assim um montão de cada vez e deixar à disposição. Eu fiz cada um deles em separado, porque tostam em tempos distintos. As sementes de abóbora são muito rápidas, por exemplo. Em poucos minutos ouvimos a pele a estalar.

Usem para servir por cima das refeições principais ou para um snack ligeiro.

São ótimas fontes de proteína entre outros nutrientes:
cajus (proteína = 18,2g/100g, fibra, magnésio, fósforo, potássio, zinco, cálcio, ferro, etc.)
amêndoas (proteína = 20,4g/100g, vitaminas A e E, cálcio, ferro, magnésio, fósforo, potássio, etc.)
sementes de abóbora (proteína = 30,2g/100g, fibra, cálcio, ferro, magnésio, fósforo, potássio, zinco, vitamina C, Vitamina A, etc.)
Fonte: USDA FoodData Central

Ervas e especiarias – pózinhos mágicos

Refeições principais, sem glúten

As ervas e as especiarias são muito poderosas. Desengane-se quem pensa que só existem para dar sabor aos nossos pratos. Sim, também tornam tudo o que cozinhamos muito mais atrativo, colorido e imensamente saboroso, mas têm maravilhosos poderes curativos. É mandatório carregar as nossas refeições com pózinhos mágicos para mantermos a máquina que é o nosso corpo sempre funcional e feliz.

Sugestão de acompanhamento para o jantar de hoje: batatas vermelhas assadas com pózinhos mágicos.

Vão precisar de:
Usei 6/7 batatas vermelhas grandes.
1 fio de azeite generoso
1 cc bem cheia de tomilho
1 cc bem cheia de alho em pó
1 cc bem cheia de pimentão doce fumado
1 cc bem cheia de açafrão
Pitadinha de amor

Lavei as batatas muito bem e parti-as aos palitos não muito finos, mais ou menos da espessura de um dedo médio (dos meus). Coloquei-as numa caixa grande com tampa, reguei-as com o fio de azeite, fechei a caixa e abanei com vontade para o azeite se distribuir. Numa tigela coloquei as ervas e as especiarias e misturei-as com o auxílio de uma colher. Abri novamente a caixa e coloquei a mistura de ervas e especiarias. Fechei a caixa e abanei mais uma vez para que todas as batatas corassem com os temperos. Ficaram lindas! Já viram a foto?

ai o cheiro bom!
tão lindas!

Num tabuleiro forrado com papel vegetal distribuí-as lado a lado para que não se tocassem e pudessem assar sem amolecer. Foram ao forno a 190º até dourarem e ficarem um pouco enrugadas. Provavelmente 45 minutos ou mais. Tenho de confessar que não tomei atenção ao tempo total.

Fiz também um molho de curgete com tomate seco saborosíssimo onde molhamos as batatas. Todos tivemos autorização para comer com as mãos! 🤣 Uma espécie de batatas assadas com molho de maionese, só que não! As crianças disseram maravilhas da comida. Várias vezes durante a refeição fizeram comentários prazerosos e comeram imenso! 🥰

molhanga com cara de sopa
hmmm!

Fica a sugestão. Acompanhem com o que gostarem mais. Molhos saudáveis de legumes, estufados de feijão, tofu salteado, saladas variadas. À escolha. Acreditem, as batatas são ótimas temperadas assim!

Informação nutricional dos pózinhos mágicos usados:
O tomilho é rico em cálcio, potássio, magnésio, fósforo, ferro e vitamina C (entre outros).
O alho em pó é um poderoso anti-inflamatório, graças à alicina. É rico em potássio, fósforo, magnésio, cálcio e selénio e em vitaminas B6, E e K (entre outros).
O pimentão doce, graças à capsaicina, é outro anti-inflamatório e antioxidante. É rico em potássio, fósforo, magnésio, Beta caroteno, vitaminas A e K (entre outros).
O açafrão é obrigatório consumir. É anti-inflamatório, antioxidante, anticancerígeno, antimicrobiano e cicatrizante. Para além disso tem potássio, fósforo, magnésio, cálcio, ferro, vitaminas E, C e B6 (entre outros).
FONTE: USDA FoodData Central

Mousse de framboesa

Doces e sobremesas

Mousse de framboesa para o Dia da mãe!

Se quiserem impressionar a vossa mamã, façam um bolinho simples e cubram com esta mousse de framboesa. É muito fácil de fazer e dá aquele toque especial a qualquer bolo e, neste caso, à ocasião.

Vão precisar de:
400g de framboesas congeladas
3 a 6 colheres de sopa de um adoçante líquido vegetal (geleia de agave, xarope de ácer, etc.)
1 pau de canela
1 cs de amido de milho (ou de tapioca ou de araruta)
1 cc de ágar-ágar em pó
2 cs de água
1/2 pacote de natas vegetais para bater
1 cc de sumo de limão

Num tacho juntam as framboesas congeladas, a geleia de agave e o pau de canela e levam a cozer em lume brando por 10 minutos.

Dissolvem o amido de milho nas colheres de água e juntam ao preparado no tacho. Juntam também o ágar-ágar. Mexem bem até engrossar. Retiram o pau de canela e trituram com a varinha mágica até que fique com uma textura lisa. Deixam arrefecer (muito importante).

Batem as natas com o sumo de limão até ficarem volumosas e firmes. Adicionam às natas o preparado de framboesas e batem mais um pouco até homogeneizar a cor.

De seguida é só cobrir o bolo usando uma espátula. Se levarem ao frio ficará ainda mais firme, porque nesta fase o ágar-ágar ainda não teve oportunidade de fazer a sua magia.

podem usar como recheio e cobertura

Se sobrar alguma mousse podem guardar no frigorífico em potinhos pequenos e ir comendo à colher nos próximos 4 dias.

Feliz Dia da mãe!

Workshop de cozinha vegetariana com e para crianças – uma experiência bonita

Workshops

Estou a dever-vos uma história bonita do ano que passou. Em plena pandemia, com o verão a começar – mais propriamente no dia 29 de julho – juntei-me a várias crianças para partilhar um almoço totalmente vegetal. Com a minha orientação e ajuda executamos um menu diversificado, saudável e muito saboroso. Aconteceu poucos meses depois da primeira vaga. Não foi fácil. Estávamos todos receosos, mas o entusiasmo era grande e, felizmente, graças a muita etiqueta respiratória, correu tudo bem.

Este workshop de cozinha vegetariana com e para crianças deu-se a convite da Dra. Teresa Branquinho, responsável pela Biblioteca Municipal de Mortágua. A Dra. Teresa é amiga da Dra. Lisete Cipriano, também responsável por uma biblioteca, desta feita a Biblioteca Municipal de Ílhavo (BMI). Ambas têm nas suas mãos belíssimos espaços de degustação de letras e ilustrações. Amplos e muito luminosos. Se tiverem oportunidade visitem, pois, para além da arquitetura, estarão a braços com programas culturais muito bem engendrados a pensar no leitor. Mas voltando à história, a Dra. Teresa e a Dra. Lisete são mulheres fáceis de gostar. Há pessoas para todos os gostos. Umas de quem não conseguimos gostar, outras assim-assim e outras com tão boa energia que em poucos minutos nos sentimos em casa. E foi o que aconteceu, com as duas. Quando conheci a Dra. Lisete ainda não atravessávamos uma pandemia e, depois de muito conversar, rir e partilhar, foi simples e bom abraçar. Depois, em fins de julho de 2020 havia a regra que as circunstâncias exigiam, mas isso não impediu que eu e a Dra. Teresa nos abraçássemos de fugida na despedida. No contexto em que vivemos é dos abraços que sinto mais falta…

A Dra. Lisete, amiga de longa data da Dra. Teresa, foi quem sugeriu o meu nome. Já tinha feito em 2019 um workshop de doces e sobremesas de Natal sem açúcar para adultos na BMI e a Dra. Lisete fora o meu braço direito. Uma tarde muito bem passada, sem dúvida. Logo nesse dia ouvi o nome da amiga Teresa pela primeira vez. A Dra. Lisete disse-me que tinha uma amiga que estava animadíssima com a ideia de eu lá ir fazer um workshop e eu ainda nem tinha começado a fazer o meu brilharete. A energia e o entusiasmo foram contagiosos. Quando a Dra. Teresa me ligou comecei a imaginar o menu de imediato. Decidimos que a idade dos mini cozinheiros poderia ser dos 6 anos até aos 12 – era importante que tivessem algum à vontade na cozinha e que o uso de uma faca (afiada) não lhes fosse totalmente estranho – mas, como ainda não era certo a que tipo de equipamento eu iria ter acesso, pouco mais pudemos adiantar. Sabíamos que era essencial fazer algo 100% vegetal, que fosse de rápida execução, saudável e agradasse a miúdos. O desafio era grande.

Trocamos vários telefonemas super animados. A Dra. Teresa é imensamente empolgada e passou-me essa energia com facilidade. De chamada em chamada a fasquia foi subindo. De um workshop simples numa biblioteca em que «se calhar pode levar quase tudo pronto e no momento só junta os ingredientes e fala com os meninos sobre a sua alimentação», passou para «temos um restaurante amigo que nos pode emprestar um forno – se precisar de mais do que um diga – e a bancada da cozinha com fogão».

Foi absolutamente espetacular. Quando saio para a casa dos outros, independentemente de ir com roupa de ilustradora ou de cozinheira, já estou à espera de alguma dificuldade, ou porque não há um material específico que pedi ou porque não há aquele equipamento essencial e tudo bem. O improviso é muitas vezes motivo de diversão e ajuda-nos a sair fora da caixa em busca da melhor solução. Nesta casa, uma biblioteca, é preciso relembrar, eu tive um forno mil vezes melhor do que o meu, uma bancada de trabalho comprida com fogão incorporado, vários braços para me ajudar e muitos sorrisos curiosos. É caso para dizer, nunca imaginei que fosse possível. Toda a equipa foi simpaticíssima. As crianças conseguiram gerir bastante bem o distanciamento físico (possível) e as novas regras na cozinha.

Tudo começou com uma visita ao Mercado Municipal para comprarmos os ingredientes frescos. Achei esta sugestão da Dra. Teresa muito pertinente e pedagógica. De seguida regressamos à cozinha improvisada da biblioteca e arregaçamos as mangas.

A muitas mãos, preparamos duas entradas, uma sopa, um prato principal e uma sobremesa. Para a entrada fizemos hummus para comer com palitos de cenoura e bolinhas de vegetais no forno. A sopa de ervilhas fez imenso, contrariando a ideia comum de que as crianças não gostam de sopa. Quem é que adivinhava que com comensais até aos 12 anos a sopa iria ser o prato mais apreciado?! Eu também gostava de ter repetido! A refeição principal teve hambúrguer de grão-de-bico no forno em pão pitta com salada ao molho de caju. Rematamos com uma sobremesa deliciosa toda feita com fruta: mousse de framboesa em tacinha gelada.

hummus com cara de coronavírus
bolinhas de vegetais (que de bolinhas não têm nada)
hambúrguer de grão-de-bico no forno em pão pitta com salada ao molho de caju

Há toda uma série de constrangimentos em cozinhar para 15 pessoas, principalmente num ambiente que não é o nosso. Mas com boa energia, entreajuda e satisfação tudo se fez.

Este workshop de cozinha vegetariana com e para crianças foi uma experiência muito positiva.

Os participantes, que esgotaram as inscrições, descascaram cenouras, esmagaram bananas, descascaram e cortaram dentes de alho – acho que foi a tarefa que mais gostaram – moldaram as bolinhas de vegetais – que de bolinhas não tinham nada – e enformaram os hambúrgueres. Tudo isto enquanto faziam perguntas sobre a minha alimentação, que exclui todos os alimentos de origem animal. Tudo o que como e que ajudei a confecionar no workshop de cozinha vegetariana daquela manhã vem das plantas. É importante desmistificar e sublinhar que não só é possível viver com uma dieta à base de plantas como traz benefícios para a saúde, ajuda o planeta e salva vidas de inúmeros animais. O veganismo não é o futuro, é o presente!

Só aguardamos que a pandemia dê tréguas para fazermos mais crianças e adultos felizes.

Escrevam-me, vamos cAMinhAR juntos.

Vejam as notícias do município de Mortágua nos recortes de jornais que vos deixo e também no site do Município de Mortágua.

diário As beiras
jornal Defesa da Beira

Canjinha de cogumelos

Refeições principais, sem glúten

Quem gosta de canja? Do quentinho do caldo, da maciez da massa, da facilidade com que aquecemos em poucas colheradas… A versão vegana tem isto tudo e ainda nos deixa com a barriga bem-disposta e com a alma leve.

O meu mais velho gosta muito de canjinha. O mais novo nem por isso. Implica com o líquido, apesar de gostar muito de massa. Recordo-me, há uns anos, de ter visto um casal amigo a comer canja e um queria o líquido todo com apenas algumas massinhas a boiar e o outro só queria a massa sem caldo algum. Era de rir. Mas, lá está, completavam-se, até nisso. 😁

Os meus filhos são parecidos com o tal casal amigo. 🥰

Para este confortinho vão precisar de:
1 cebola doce média
2 dentes de alho
Fio de azeite (eu usei de baixa acidez)
2L de água (destes 500ml foram de água de cozer grão)
250g de cogumelos (eu gosto de usar pleurotus)
2 cenouras grandes (≈ 190g)
1 curgete média (≈ 270g)
2cs de tamari
Flor de sal qb (opcional)
100g de massa pequenina (pevides, letras, etc)

A preparação é muito simples. Rala-se a cenoura e a curgete na parte mais larga do ralador manual. Cortam-se os cogumelos em juliana. Reserva-se.

Corta-se a cebola às rodelas e lamina-se os dentes de alho. Com tudo preparado, numa panela pequena, refoga-se a cebola e o alho no fio de azeite, só até alourar e amolecer a cebola. De seguida junta-se a água, os cogumelos, as cenouras e a curgete, o tamari e a flor de sal (se usarem). Deixa-se ferver e cozinhar por 10 minutos.  Depois junta-se a massinha e deixa-se cozinhar por mais 10 minutos (ou pelo tempo de cozedura que vem na embalagem da massa escolhida). A foto que vos deixo é de quando ainda comíamos massinha de letras (de trigo). Esta semana fiz com massinha sem glúten (de milho, arroz e milho-miúdo) em forma de anéis. Umas mini argolinhas. Mas não tirei foto. Quando desligarem o fogão vai parecer que é pouca massa, mas mesmo depois de desligado a massa continua a aumentar de volume e fica tudo mais compostinho.

Em dias frios é uma delícia. Adoro segurar a tigela e comer com ela chegada a mim. Aquecer as mãos e a barriguinha ao mesmo tempo.

Alimentação sem glúten

sem glúten

Para quem ainda não me conhece eu tenho dois meninos lindos, um de 3 anos, feitos em outubro passado e outro de 7 anos e meio. Quem me tem lido nos últimos tempos já deve ter visto uma mão gordinha e papuda, como só os bebés têm, e uma outra mão magrinha e esguia como só o meu mais velho tem. 🥰 O mais novo, desde pequenino que tem noites muito agitadas, sono interrompido e muito choro durante o dia sem razão aparente. O mais velho (depois do primeiro ano de vida) sempre dormiu muito bem, seguido e sossegado. Há muitos pais que dizem que depois dos seus filhos nascerem nunca mais tiveram uma noite de sono tranquila e isso com filhos já com mais de 5 anos. O meu primeiro é uma paz. Já o meu segundo… ele é um desses, dos que nunca tem noites tranquilas e, apesar do inconveniente (😂), já estou (estava) resignada.

Por não haver tanta biodisponibilidade de certos nutrientes no mundo vegetal, ao fazermos uma alimentação 100% vegetal, é imperativo estarmos mais atentos ao nosso corpo. Como o nosso corpo nem sempre se expressa de forma reconhecível, fazer análises completas ajuda-nos a perceber o que está em falta para posteriormente compensarmos, sempre que possível com alimentação ou, se não for exequível, com suplementação.

Todos fazemos análises uma vez por ano. Este ano o pequenito foi fazer pela primeira vez. E eis que, quando os resultados chegaram, descobrimos que ele tem doença celíaca. Foi completamente inesperado. O meu miúdo não tinha as queixas típicas. Não havia distensão abdominal, azia ou dores intensas após a ingestão de alimentos com glúten. Não havia perda de peso ou de apetite. Nada que apontasse nessa direção. Mas a verdade é que após um mês de evicção total de alimentos com glúten o meu miúdo passou a ter noites muito mais calmas e até ganhou peso (coisa que não precisava 😅). O irmão passou a fazer a mesma alimentação, assim como eu, e também saiu a ganhar.

O glúten é um composto de proteínas que pode ser encontrado nos cereais como o trigo, o centeio e a cevada. A aveia, apesar de não ter glúten, pode ser altamente contaminada no cultivo de proximidade com cereais com glúten ou mesmo no seu processamento. Só a aveia com certificação de isenção de glúten poderá ser consumida por quem tem doença celíaca.

Parece muito simples deixar de comer glúten, mas exige de nós muita leitura de rótulos. Assim de repente só teríamos de deixar de comer massa (que é na maioria das vezes de trigo) e pão, mas não. Há muitos outros alimentos que «podem conter vestígios de glúten» e que são potencialmente prejudiciais para aqueles que têm doença celíaca. No caso das sementes de chia ou de linhaça, por exemplo, estas poderão «conter vestígios de glúten» às custas do embalamento. No caso da farinha de grão-de-bico, que é 100% grão-de-bico moído, a contaminação acontecerá na moagem do grão, pois frequentemente a cuba de processar o grão é a mesma de processar cereais como o trigo ou o centeio. Estes são apenas 2 exemplos, sementes e uma farinha de leguminosa, mas são quase infinitos os alimentos com contaminação cruzada. Uma alimentação segura é exigente pelo que a leitura de rótulos é imprescindível.

Esta partilha surgiu para vos explicar porque é que, de repente, as receitas que vou publicando no blogue e as gordices em forma de bolo e de bolachas que vou mostrando no Instagram são agora sempre sem glúten. É um mundo novo, acertar no ponto das misturas de farinhas, mas aos poucos eu chego lá.

Nos dias em que algum amiguinho do mais novo faz anos e leva bolo para a escola, para festejar com os amigos, eu faço algum bolo diferente para ele poder festejar comendo de forma segura. Já fazia porque não queria que ele comesse alimentos de origem animal, agora somou-se este detalhe tão importante, não conter glúten na massa dos bolos. Umas vezes leva uma fatia de um bolo, outras um queque. O objetivo é que se sinta integrado e feliz.

A foto de hoje é de um queque de alfarroba e cacau com recheio de creme de alfarroba. É sempre uma bela surpresa dar uma dentada num bolo denso e sentir o interior húmido e docinho.

Neste queque usei farinha de trigo sarraceno, farinha de aveia e farinha de milho para substituir a farinha de trigo na receita. Ficou uma delícia! Mas atenção que cheguei a pensar que ia deitar fora a massa toda, porque quando a estava a misturar começou a engrossar e a ficar difícil de mexer… Mas não, correu lindamente e ficou muito saboroso! Tive sorte! 😊

Se também andam a experimentar não desistam. Força!

Tofu e cogumelos Portobello no forno

Refeições principais

Já fiz esta receita várias vezes. Umas vezes só o tofu, outras só os cogumelos e variei no acompanhamento. E nunca falha. Há sempre algum silêncio à mesa! Toda a gente com crianças por perto sabe que silêncio à mesa é sinónimo de manjar muito apreciado.

O tofu exige alguma preparação para que fique realmente saboroso, mas não é nada difícil. Só pede que pensemos nele com antecedência. Uma marinada umas poucas horas antes ou mesmo durante a noite é o ideal. Cada um poderá usar os temperos que mais aprecia e depois é forno com ele. Mas eu conto-vos como fiz.

Para este petisco vão precisar de:
500g de tofu bio natural
250g de cogumelos Portobello
Molho Tamari qb (molho de soja sem trigo na sua composição)
Orégãos, alho em pó
Fio de azeite generoso
Farinha de aveia (sem glúten) ou de arroz qb

Nunca é demais dizer-vos que compro tofu biológico natural, daqueles que só tem mesmo grãos de soja e nigari (que é o coagulante). Retirei o bloco de tofu do saco e coloquei-o entre folhas de papel de cozinha ou um pano limpo e apertei para retirar a maior parte do soro que trazia quando embalado. Como é poroso vai absorver os temperos que lhe pusermos, mas se tiver ainda bastante soro acaba por absorver pouco e fica menos apetitoso. Portanto é importante espremer bem o tofu. Depois cortei-o em cubos médios, de cerca de 3 cm. Num tupperware grande juntei azeite, molho Tamari, alho em pó e orégãos. Mexi bem e coloquei o tofu nesse tempero. Fechei o tupperware e abanei-o até o tofu ganhar a cor do tempero. Reservei. Durante a tarde, de vez em quando, fui abanando e virando o tupperware de lado, para que o tofu pudesse ficar homogeneamente temperado.

Os cogumelos temperei na hora. Cortei os 2 cogumelos em cubos, com cerca de 3 cm como fiz com o tofu. Os pés também cortei ao meio, pois eram bastante grandes. Numa taça molhei-os com Tamari e polvilhei com alho em pó. Envolvi-os com uma colher até todos os pedacinhos terem absorvido o molho. Polvilhei-os com farinha de aveia, uma colher de sopa de cada vez, e fui envolvendo até ficarem secos por fora.

Repeti o processo com o tofu. Polvilhei com farinha, fechei o tupperware e abanei. Coloquei mais farinha (uma colher de cada vez) e repeti o movimento. Só parei quando o tofu já não mostrava o seu tempero, ficando seco ao toque. Poderia ter usado uma colher para envolver, mas como o tofu é frágil ter-se-ia desfeito e não era o desejado. Abanando o tupperware (com ele fechado) a farinha vai-se encostando aos cubinhos e já não há desperdício de tofu para a colher.

tofu depois de temperado
cogumelos a ser enfarinhados

Foi ao forno, pré-aquecido a 190º, por 30 minutos.

Comemos com brócolos a vapor (verde sempre muito bem recebido pelos miúdos), misturei duas massas em espiral sem glúten (uma de trigo sarraceno e outra de milho) e umas amêndoas tostadas.

O tofu ficou muito bom. O mais velho chamou-lhe esponjinhas de tofu. Aproveitou para comer de pauzinhos. Eles adoram comida que dê para ser comida com pauzinhos. Os cogumelos fizeram a delícia dos adultos. Estavam salgadinhos do Tamari e macios. Mesmo uma delícia.

pega perfeita de um pedacinho de cogumelo
um cubo de tofu numa mãozinha azulada de tinta dos carimbos

Como vos digo sempre, comida simples, saborosa e 100% vegetal.

Pizza de ‘pão’ de iogurte sem glúten OU como é difícil cozinhar em jejum

Refeições principais

Imaginem os vossos 2 filhos em casa em isolamento profilático. Difícil!

Imaginem a tarefa do mais pequenito, que anda a viajar pela Itália no projeto curricular de turma, a ter de fazer uma pizza em casa. Fácil! E todos nós gostamos.

Imaginem nesse exato dia eu ter de fazer jejum às custas de uma ecografia XPTO e ter de fazer pizza com eles. Dificílimo! Verdadeiro terrorismo caseiro! Nem vos digo nada. O cheiro do molho, do caiju (queijo de caju), dos cogumelos frescos… Ai! Nem vos conto. Foi surreal o dia de hoje.

E os miúdos comiam e a cada dentada diziam as maiores maravilhas da pizza. Nunca fizeram tantos elogios na vida! Nossa!

o mais velho
o mainovo

Conseguiram, por imposição minha (claro! 😂) deixar-me ficar um quadradinho de 5cm x 5cm. Foi colocado estrategicamente fora do alcance de mãos pequenas. 😁

Regressada do exame sentei-me com calma a degustar aquele pedacinho de ouro! Mmmmm, de facto, insuperável. Os miúdos tinham razão.

Como terminou num abrir e fechar de… mandíbulas 😆 continuei a manducar tostas com caiju que tinha sobrado da pizza e molho de tomate. Juro-vos, manjar dos deuses!

Curiosamente os miúdos também já tinham feito igual, no lanche, e tinham dito maravilhas do molho e do caiju na tosta. Nessa altura eu limitei-me a salivar.

As receitas de hoje são pouco precisas. Foi tudo feito a olho, mas aposto que vocês vão conseguir fazer certinho. Desafiem-se, vão deliciar-se.

Base de pizza (por esta ordem):
Iogurte natural de soja, sem açúcares (eu usei da Provamel)
Alho em pó
Sal fino
Flocos de aveia finos sem glúten

A receita do molho de tomate e do caiju podem encontrar no blogue no post sobre pizza em base de pão Naan.

Agora, o pão de hoje é muito simples, apesar de não ter medidas exatas para vos dar.

base de pão de iogurte e aveia sem glúten

Devo ter utilizado cerca de 250g de iogurte de soja ao qual juntei o alho e o sal e misturei bem. Depois adicionei uma porção de flocos de aveia (certificada sem glúten) e fui mexendo e colocando mais até acertar a consistência. Queremos uma massa densa e pouco húmida. Está no ponto certo se passarem uma colher de sopa por cima, amassando, e ficar liso sem vestígios da mistura na colher. Se ficarem bocadinhos de iogurte na colher é porque ainda está muito húmido. Depois da consistência certa ser encontrada é só colocar a massa em cima de papel vegetal (ou tapete de silicone) e espalmar com a ajuda de outra folha de papel vegetal e um rolo da massa. Retiram com cuidado a folha de cima e levam ao forno (pré-aquecido) por 10 minutos a 200º. Retiram e guarnecem começando pelo molho de tomate, depois os cogumelos e por último o caiju. O caiju fica mais saboroso se tostar ligeiramente e até ganha um pouco de crocância. 😋 Se ficar escondido debaixo dos cogumelos vai ganhar a humidade destes e perder essa textura tão agradável. Por isso, nesta pizza, o caiju vai no fim.

Deixo-vos o making off. 🥰

o mainovo espalhando o molho de tomate
os dois a espalhar cogumelos
colocando levedura para dar aquele saborzinho a queijo
cobrindo a pizza de ‘minhocas’ de caiju

Façam, vão ver como esta simplicidade impressiona! ❤ E os miúdos agradecem! 🥰

Lasanha de feijão-preto e legumes

Refeições principais

Há várias semanas, para não dizer meses, o meu filho mais velho pediu lasanha. Torci o nariz, confesso. O pedido veio, claro, porque os amigos tinham comido lasanha (tradicional) na escola. Eu combinei com ele que sempre que quisesse comer o que os outros comiam me dizia e eu tentaria replicar numa próxima vez. Mas demorei para fazer porque, sejamos francos, é trabalhoso. Tem várias etapas e eu estou mais numa de fazer comida apetitosa, mas rápida. Hoje disse-lhe para escolher o menu tendo em conta que iríamos comer feijão preto. Ele escolheu bolonhesa de feijão preto. Fiquei feliz por ele conseguir adaptar a bolonhesa à leguminosa que tínhamos para comer. Estou a fazer bem o meu papel. 😁 Mas, quando comecei a preparar o molho de tomate lembrei-me da lasanha. Olhei para o relógio e imaginei que teria tempo (para todas as fases). Ia ser mesmo à risca, mas parecia exequível. Molho de tomate com feijão-preto, legumes salteados e molho bechamel.

Quando já tinha tudo pronto fui buscar a massa da lasanha. Abro o pacote e vejo um bicharoquinho a dar às asas. Não!!!!! Gorgulho!!! E eu a cozinhar a contra-relógio! Mas também, pudera! Ao tempo que o pacote estava para ali perdido… Corri para o supermercado. Felizmente, tenho um mesmo pertinho de casa. Entrei, encontrei a massa. Tinha fila para pagar. Uma senhora foi muito simpática e deixou-me passar à frente. A mim e ao meu pacote de massa de lasanha. E as minhas crianças comeram meia hora depois do desejado. Atenção que, na hora do jantar, meia hora de atraso, (pra mim) é muito! 😜 É terrível estar a fazer o jantar e ouvir o pequenito a dizer que tem fome e a vê-lo rondar a cozinha de minuto a minuto. Mas a comida fez sucesso, por isso valeu a pena.

Molho de tomate:
4 tomates maduros
4 tomates secos
1 cebola roxa média
3 dentes de alho
Salsa fresca
4 conchas (de servir sopa) de feijão preto cozido
Óregãos e manjericão
Azeite qb (usei de baixa acidez)

Legumes:
400g de abóbora (de polpa laranja)
1 cenoura grande (bio)
1/2 repolho médio
Alho em pó
Óregãos e manjericão
20ml de molho de soja
Azeite qb (usei de baixa acidez)

Molho bechamel:
600ml de bebida vegetal de aveia (sem açúcar, bio)
4 cs (cheias) de farinha de espelta integral (bio)
2 cs de azeite (usei de baixa acidez)
Noz-moscada
Flor de sal (opcional)

9 folhas de massa de lasanha

Para o molho de tomate eu desfiz os tomates, secos e frescos, com o alho e a salsa (ando a ter de a esconder porque o mais novo cisma que não gosta) com a varinha mágica num copo alto. Pus a cebola picadinha a refogar com o azeite numa frigideira anti-aderente. Quando já estava ligeiramente dourada juntei o preparado de tomate e as ervas. Mexi e tapei a frigideira. Deixei fervilhar por 10 minutos. Juntei o feijão-preto cozido e deixei fervilhar mais 5 minutos. Desliguei.

Para os legumes, cortei todos eles em tirinhas. Para a cenoura e para a abóbora usei o ralador na parte mais larga. Para o repolho foi mesmo uma faca afiada e alguma paciência. Juntei tudo numa panelinha e mexi em lume médio/alto enquanto foram largando os seus sucos e murchando. Coisa para poucos minutos.

Para o molho bechamel misturei todos os ingredientes e levei a lume médio/baixo até engrossar. Cuidado que a bebida vegetal pode fazer alguma espuma e vir por fora.

Usei folhas de massa de lasanha que não precisavam de ser pré-cozinhadas, por isso, o resto já sabem, é montar às camadas, terminando com o molho bechamel. Comecei com molho de tomate e feijão-preto, depois legumes e uma camada de bechamel. Depois folhas de lasanha, e repetir a ordem das camadas. Terminei com uma dose generosa de molho cobrindo a última camada de folhas de lasanha. É importante que haja bastante líquido para que elas cozinhem sem secar ou endurecer.

Levei ao forno a 200º apenas até o molho dourar.

Estava muito saborosa e os miúdos imensamente felizes. Foi um jantar como se quer. 😊

Molho de couve-flor em empadão de feijão-manteiga com macarrão

Refeições principais

Quase nem dá para acreditar na maravilha que ficou este molho. Exageradamente bom. Apetitosíssimo. Inexplicavelmente delicioso.

Comecei a preparar o jantar na hora de almoço. Tinha feijões cozidos da noite anterior e queria apresentá-los de forma diferente. Ainda me lembrei de fazer burgers, mas quando vi a couve-flor a espreitar no frigo pensei em molho e pronto, tinha de sair alguma coisa de forno numa assadeira.

Fiz uma pasta/mistura de feijão-manteiga com cenoura, cebola, salsa, maçã, cajus, alho e pimentão doce. Utilizei o processador por duas vezes. Na primeira vez coloquei todos os ingredientes da pasta/mistura de feijão menos o feijão e os temperos. Triturei grosseiramente. Reservei numa taça grande. Depois triturei os feijões com alho em pó e pimentão doce. Juntei à taça do primeiro preparado e envolvi bem.

foi ao processador
juntei as duas misturas
espalmei bem

Espalmei essa pasta/mistura numa assadeira de pirex e levei ao frio até pouco antes da hora de jantar.

Na hora de jantar cozi massa macarrão riscado, apenas até ficar al dente. Escorri a água e reservei. Enquanto a massa cozia preparei o molho de couve-flor cozendo pequenos floretes (mesmo pequeninos para ajudar na cozedura ou, até, completamente triturados) com bebida vegetal de aveia (com cálcio e sem açúcares adicionados). Temperei com alho em pó, um fio de azeite e uma pitada de flor de sal. Cozeu por 7 minutos em lume alto. Depois de desligado juntei a levedura nutricional e triturei tudo até obter um creme fluido e sedoso. O cheiro que ficou pela casa foi divinal. O meu mais velho até parou de fazer os trabalhos de casa para vir cheirar.

De seguida foi só colocar a massa cozida por cima da pasta/mistura de feijão que já tinha espalmado na assadeira e cobrir com o molho todo. Foi ao forno pré-aquecido a 200º até dourar.

pasta de feijão com massa por cima
molhanga a cobrir a massa
molhanga douradinha

Estava qualquer coisa!

Eu não gostei por aí além da pasta/mistura de feijão, mas os miúdos comeram muito bem. O molho, esse sim, eu achei digno de partilha. Mesmo delicioso!

Se forem experimentar (façam, façam que vão ficar rendidos) podem usar uma qualquer outra base de que gostem: feijões cozidos sem mais nada, estufadinho de lentilhas, legumes assados (que assariam previamente e só depois colocariam a massa e o molho), etc. Em vez de massa, aposto que ficaria bem arroz coberto de molhanga de couve-flor. São várias as hipóteses. Qualquer uma delas ficará elevada com o molho de couve-flor que vos trouxe.

camadas de sabor

O meu mais velho não gosta de couve-flor. Enquanto comia desfez-se em elogios e eu aproveitei para lhe dizer de que era feito o molho. Ficou estupefacto, mas continuou a comer com a mesma vontade!

Para a pasta/mistura de feijão vão precisar de:
150g de cebola doce
20g de salsa fresca
215g de cenoura (eu usei bio)
95g de maçã (eu usei gala)
100g de caju natural cru
900g de feijão-manteiga cozido
Alho em pó qb
Pimentão doce qb

Para a massa vão precisar de:
500g de massa macarrão riscado (eu usei de espelta bio)
Água qb

Para o molho vão precisar de:
350g de couve-flor
500ml de bebida vegetal de aveia (sem açúcar)
1cs de alho em pó
Pitada de flor de sal
Fio de azeite (eu uso de baixa acidez, o primeiro azeite do bebé)
100ml de levedura nutricional *

* A levedura nutricional ou Nutritional Yeast é um alimento natural obtido a partir da fermentação do melaço. É uma levedura inativa feita a partir da Saccharomyces cerevisiae. É muitas vezes considerada um superalimento pois é rica em proteínas, fibras, vitaminas (principalmente do complexo B), minerais (como o ferro, zinco, magnésio, entre outros) e antioxidantes. É um alimento sem glúten, sem açúcar, sem ingredientes de origem animal, sem aditivos, sem conservantes, sem aromas ou corantes artificiais. Soma-se a isto tudo um leve travo a nozes e a queijo. Uma força da natureza! Pode ser usada para polvilhar pratos salgados ou doces. Fica boa na sopa, nos estufados, em pratos de massa, em papas de pequeno-almoço… A sua utilização não tem fim.